Considerando as culturas gastronômicas dos colonizadores ou dos imigrantes no Brasil, pode-se deparar com receitas inseridas no país por eles. Além de receitas culinárias, esse tipo de busca de entendimento pode nos esclarecer sobre o patrimônio alimentar de um povo.
Tal situação aguça a curiosidade em entender melhor nossos pratos e justifica o interesse neste “Bolo de Rolo”, pois se trata de um bolo que faz parte da culinária brasileira, sendo bastante popular no estado de Pernambuco, denominado bolo de rolo pernambucano. A propósito, ele é reconhecido como patrimônio cultural imaterial de Pernambuco.

“Ele surge das influências pioneiras no Brasil, onde temos o movimento judaico-português durante o domínio holandês no Nordeste” (Marcelo Miranda Guimarães em 25/07/2012).
Muitos judeus cristãos-novos eram bem
representados, juntamente com Fernando de Noronha, o responsável pela introdução do cultivo de cana-de-açúcar no Brasil em escala industrial para exportação.Várias fazendas de engenho açucareiro pertenciam a judeus, onde instalavam suas sinagogas nas próprias fazendas, como se destaca no livro “Senhores de Engenho: Judeus em Pernambuco Colonial” 1542-1654, de José Alexandre Rebemboim.

Diogo Dias Fernandes e sua mulher, marranos brasileiros, que possuíam uma Torá (rolo contendo os cinco primeiros livros da Bíblia, denominados Pentateuco), frequentavam a Sinagoga de Camaragibe, localizada na fazenda de Bento Dias Santiago, onde se reuniam judeus de Pernambuco. Logo podemos compreender que, com as plantações de cana-de-açúcar em
Pernambuco (século XVII), também se desenvolveu uma doçaria com fortes influências judaico-
portuguesas, surgindo, então, o Bolo de Rolo.

Descobrir a origem do Bolo de Rolo, como de qualquer alimento brasileiro, mesmo esse sendo tipicamente regional, pode ser um tanto complexo.
O Bolo de Rolo se diferencia de outros bolos enrolados, como, por exemplo, o rocambole, devido às suas camadas serem bem mais finas e em maior quantidade. Isso resulta não só numa diferença estética, mas também de textura e sabor.

A popularidade do Bolo de Rolo, no Nordeste brasileiro, sobretudo em
Pernambuco, deve-se à tradição dos senhores de engenho em apreciá-lo
como sobremesa e utilizá-lo inclusive
como forma de agradar pessoas
importantes que os visitavam, até mesmo presenteando-as com o bolo.

Diante disso, acreditamos que os hábitos alimentares são sustentados por questões simbólicas e culturais de cada povo.

O Bolo de Rolo apresenta uma peculiar estrutura em forma de rolo, contendo uma fina camada de bolo, com recheio de goiabada derretida enrolada, e coberto de açúcar conforme descreve a receita.

O Bolo possui uma função social indispensável na vida dos judeus-portugueses, pois ele simboliza o rolo da Torá, dado e formulado exclusivamente para Israel; porém, há nela, na Torá, um lugar para orientação do Eterno a toda humanidade por Ele criada, pois ela apresenta-se como a vontade una de
Deus na Bíblia e, em sentido literal, é necessária para a VIDA.

O objeto físico que traduz visualmente a formação de um raciocínio e expressa a crença de um povo é o Bolo de Rolo.

Ele situa o valor da obra na tradução fiel da realidade, na combinação de sentimentos e pensamentos que devem ser regidos pela Torá, de que o Bolo de Rolo é a figura.

Ele representa a solidariedade humana. Os inumeráveis tipos figuram até hoje, casamento, visita de partida, aniversário, convalescença, enfermidade e condolências. É a saudação mais profunda, significativa e insubstituível.

Ele é a oferta, lembrança, prêmio, homenagem que se traduz pela bandeja
de doces dada ao rei, ao cardeal, fidalgos, compadres, vizinhos e conhecidos. O doce
visita, faz amigos, carpia e festeja.
Pode-se afirmar que até hoje tal prática se mantém e que ganhou um significante papel nas relações pessoais. Atualmente, até mesmo no aeroporto da cidade do Recife, o bolo é comercializado, pois muitos turistas o compram e levam para presentear outras pessoas. Esses costumes são coerentes quando afirmam que, mais do que responder a uma necessidade básica do organismo, ato de comer, também implica em qualidade de imaterialidade que deve ser concebida.

Não pode haver outra delegação mais legítima na plenitude simbólica da doçura. Para o poeta, a Torá do Eterno tem o brilho do ouro, assim como a doçura do mel.

“Mais desejáveis são do que o ouro, sim, do que muito ouro fino; mais doce que o mel, que o melado dos favos”. Salmo 19:10

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